A Oportunidade do Espectador - Life Project

 

Área de Atividade - Apresentação

// Instalação

 

Começo por registar a saída da casa que partilhámos. Fotografo metodicamente todo o processo, os objectos, o antes e o depois, as malas, as caixas, o que se vê da janela, a mudança, a viagem, as minhas coisas na garagem da minha mãe. E escrevo, muito. Este registo tornou a situação mais real. Porque me exponho? A origem está na ruptura de uma relação. O que me levou à exposição foi uma falha na comunicação. Falo da ruptura com muitas pessoas mas não falo com quem a provocou. Percebo que estou a ritualizar uma situação à qual não consigo reagir. Para não paralisar, tento rodear-me de amigos, invento rotinas, faço e publico. Tento perceber o que faço e porquê. Vou perguntando e obtenho mais perguntas que me fazem perceber algumas coisas. Percebo que em miúdo queria ser um artista (4 anos, confirmado pela minha mãe). Percebo que a relação que tinha preenchia isso. Projectei-me no outro. O outro fazia por mim e o pouco que eu fazia era para o outro. Não tendo onde me projectar, decido fazer e expor. Empenho-me e quando termino (?) fico realizado. Sinto-me melhor ou, pelo menos, vivo. A ter um objectivo, será sentir-me vivo, sentir-me melhor. Vou publicando num blog que já tinha e, a partir de um dado momento, pareceu-me fazer sentido mudar-lhe o nome. Decido começar um novo. Começo a procurar coisas que tinha feito, tento organizar-me. Assumo que sou um autor a expor. Uma espécie de tentativa, em parte por me sentir perdido vocacionalmente, em parte por sugestão de várias pessoas. Escrevo e faço coisas que para além de pessoais expõem a privacidade de outros. Tenho pudor e selecciono o que publico. Há portanto consciência que outros, e em particular quem causou a ruptura, possam ver o que publico, pinto e colo nas paredes da rua. Exponho-me para mim, para os meus amigos, para quem não conheço e para o outro. Esta exposição é uma tentativa de comunicação. Pergunto quem sou, peço ajuda e compreensão, ou piedade. Mostro a todos que sou igual a todos. E tento ter uma conversa com o outro. E, quando termino este texto, percebo que o meu primeiro objectivo é terapêutico. Faz-me bem fazer. Também foi objectivo não deixar morrer o amor, agora é ultrapassá-lo.

 

Data de Apresentação - 2 e 3 de Novembro 2007

Local - Transforma, Praça do Município 8, Torres Vedras

 

Autoria de - ARTUR FÉLIX (PT)