Luchezar Boyadjiev

"On vacation"


O projeto "On Vacation" ("Em Férias") consiste numa série humorística de fotografias que adopta simultaneamente uma abordagem séria da análise da problemática que rodeia as histórias de determinados países, bem como o seu papel no processo de integração política e cultural dos países Europeus e das suas sociedades. Boyadjiev iniciou o seu trabalho de questionamento das identidades Europeias em 1997 na Documenta X, com uma proposta de "sobreposição de identidades". Imagens de "On Vacation" representam monumentos equestres de vários países Europeus com figuras de líderes removidas e "Em Férias". Trata-se de uma união simbólica através da liberação do espaço público do seu passado, abrindo-o desse modo em direção ao futuro.


15 provas fotográficas digitais de uma série em curso, cada uma medindo 53 x 73 ou 73 x 53 cm.




Luchezar apresenta regularmente o seu trabalho internacionalmente em exposições individuais e coletivas, exercendo também a atividade de curador e docente. O seu trabalho está representado no CAMK (Contemporary Art Museum of Kumamoto) Kumamoto, Japão, no The Fabric Workshop and Museum, Filadélfia, EUA, na Galeria de Arte Nacional, Tirana, Albânia. Luchezar trabalhou previamente sobre o tema Identidade Europeia em 2010 no seu projeto Overlapping Identities.


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/ A minha história europeia


Os “nativos” norte-americanos reagiram imediatamente com um “Ohhh, tão Europeu!!!” Será que perceberam mesmo o que eu era ou tratou-se apenas de uma projeção da parte deles?


Nasci na Bulgária. O meu apelido tem origem na palavra Árabe (proveniente do Turco) "boya" = tinta. "Boyadji" em Turco, bem como em Búlgaro, significa "um pintor". A minha terra natal (paterna) é a aldeia de Mlechevo – no centro da Cordilheira dos Balcãs.
Oito jovens da minha aldeia estavam no Titanic. (Ver fotografia da sua campa simbólica no pátio da Igreja na minha aldeia natal, Old /Staro/ Mlechevo, agora Seltze, distrito de Lovetch, Bulgária)


No vale a sul da minha aldeia e ao longo das Montanhas dos Balcãs, perto de Kazanluk, existem dezenas de túmulos históricos Trácios erigidos no séc. 5 a 3 AC. (Ver aqui o Túmulo de Kazanluk, séc. 4 AC)


Passei os primeiros três anos da minha vida em Moscovo. O meu pai trabalhou na secção Búlgara da Rádio Moscovo durante a liderança de Nikita Khrushchev. Levaram-me de comboio em Dezembro de 1957, quando eu tinha 40 dias de idade. Desses tempos apenas me lembro da figura fantasmática da avó Tanaka, a mulher do Comunista japonês que perdeu a vida nos campos de Estaline – vejo-a a caminhar em minha direção, sob uma lâmpada única no corredor de um apartamento de habitação social em Moscovo onde visitávamos regularmente os nossos amigos. Veste um quimono. Tem uma cara feia parecida com um totem Sioux, mas está a sorrir e ama-me. No entanto, tinha medo.


Terminei os meus estudos na Academia Nacional de Artes de Sofia em 1980. O artista mais famoso que estudou nessa escola foi Christo. O apelido verdadeiro dele é Javashev. Em turco, "javash, javash..." quer dizer, "vai devagar", ou seja, deixa para amanhã o que podes fazer hoje. Em búlgaro tem o mesmo significado.
A minha primeira residência artística ocorreu no verão de 1992. Dois meses na Kunsthaus, em Horn, Baixa Áustria. Na região em redor da cidade podem ser visitadas, entre outras atrações:


A/ a aldeia onde foi encontrada a escultura paleolítica da Vénus de Willendorf;
B/ o castelo de Dürnstein, local onde mantiveram preso durante algum tempo o Rei Ricardo I, Coração de Leão;
C/ A Abadia de Melk – sim, essa – Umberto Eco, O Nome da Rosa (1980), Adson de Melk, etc.;
D/ o vinho produzido na região de Langenlois…;
E/ …e mais importante de tudo – o meu trabalho site-specific de 1996 intitulado “Gazebo” nos montes que encimam Gars-am-Kamp.


Não faço ideia se alguma destas coisas faz de mim mais ou menos Europeu, e francamente, não estou nada preocupado. No entanto, tudo isto ilustra aquilo que defini em 2007 como sendo uma “sobreposição de identidades” – um conceito que lida com a complexidade da identidade Europeia. Mais informação aqui: www.cfront.org/cf00book/en/luchezar-overlapping-en... Atualmente essa "complexidade" não é vertical, mas sim horizontal. Espero que a Europa venha a ser capaz de se redefinir através de mais solidariedade...


O momento em que me senti mais "Europeu" foi em Janeiro de 1981, a primeira vez que estive em Nova Iorque e nos EUA. Ia ficar mais três anos por lá, mas numa determinada noite durante uma festa alguém me apresentou a outra pessoa. Eu estava totalmente perdido no novo mundo. Tinha vindo da Bulgária, um país que pertencia à facção mais dura do Bloco Comunista Soviético. Não era um emigrante. Estava completamente legal e tinha terminado os meus estudos artísticos. Automaticamente, estendi a mão direita para apertar a mão da pessoa a quem estava a ser apresentado. Os "nativos" norte-americanos reagiram imediatamente com um "Ohhh, tão Europeu!!!". Será que perceberam mesmo o que eu era ou tratou-se apenas de uma projeção da parte deles?